O indisfarçável rancor
e mesquinhez dos apologistas do fim do Barcelona não se dão conta que eles acabam
expressando algo muito mais grave: a situação do futebol brasileiro. Na verdade
essa é a grande questão de fundo que dá inteligibilidade a sentimento tão
rasteiro.
Para começar, façamos
um pequeno e pueril exercício: alguém no mundo, por mais mesquinho que seja,
inveja o Olaria, o XV de Jaú, o Itapipoca, o Talleres, o CRAC, o Cremonese, o
Acadêmico de Leixões ou o Penápolis? Preciso responder...?
Taí, temos um primeiro
motivo de tanta inveja ao Barça: ele é grande demais. Ele é fantástico. Ela foi
a melhor e mais formidável equipe do mundo, sem bater, sem gritar, sem comprar
juízes, sem botar seguranças para bater na equipe rival, sem insuflar sua
torcida a invadir o gramado, sem se dopar, sem ir ao tapetão, sem se servir de
retrancas bizarras, de anti-jogo, cusparadas, pisões, xingamentos. Não! Nada
disso. Ele foi grande e conquistou o mundo jogando futebol: simplesmente isso.
O Barcelona ousou se dedicar a jogar única e exclusivamente isso: futebol! E ao
entrar em campo, fosse contra o Málaga, fosse contra o Chelsea, ou o Almería ou
o Real Madrid, ele só queria isso: jogar futebol. Mas jogar com prazer,
esbanjando leveza, unindo jogo e beleza. E principalmente: ele não só quis,
teve desejo, não é que o danado do time conseguiu. Foi capaz de efetivar o que
sempre pretendeu, o que sempre treinou toda a semana, de segunda a sexta. Sim,
eles conseguiram. E aí vem a questão primordial.
Algum time, equipe ou
seleção é capaz de fazer algo parecido, mesmo que de longe, com o que o
Barcelona conseguiu fazer? E aqui escrevo novamente: preciso responder.....????
Mais é aqui que reside
o grande problema. Não só o Brasil não consegue realizar algo parecido, como o
que se vê aqui é dantescamente distinto do que se passa não só no Barcelona,
como na Europa como um todo.
O rancor e a
constrangedora inveja contra o Barcelona não é mais do que um efeito do
mecanismo de recalque desses cronistas em face da situação de extrema
indigência em que se encontra o futebol nacional nesse exato momento. Vibrar
com a derrota do Barcelona serve como um alívio para pessoas na verdade
desesperadas com o fato de que o Brasil e o futebol brasileiro não passa hoje
de um cadáver para a crônica internacional.
Na foto acima, a única coisa genuína se encontra escondida: a enorme pança do Fenômeno. |
Ver o Barcelona cair
serve como um escape para pessoas que antes ganhavam a vida cobrindo o melhor
futebol do mundo, com campeonatos superavitários, onde estádio cheio era a
coisa mais comum, a ponto de ter ocorrido por diversas vezes jogos envolvendo
times como Madureira, Olaria, Bonsucesso e América no Maracanã. E as
testemunhas ainda vivas dessa época juram de pés juntos que os públicos facilmente
ultrapassavam a casa dos 30-40 mil pagantes (fato raro nos dias de hoje até em
clássico).
Hoje essas pobres criaturas são obrigadas a encontrar ânimo e algum tipo de motivação para festejar e vibrar com um futebol que se não é o mais pobre, está há anos-luz abaixo do que se pratica nos principais centros europeus.
Mas para isso é preciso
esconder muita coisa. Jogar para o tapete. Recalcar mesmo. Como festejar um
futebol cuja confederação é liderada por um sujeito acusado de participar
indiretamente da prisão e tortura de presos políticas ao tempo da ditadura
militar? O comentário sobre essa espúria situação por parte de Wadih Damous, um
dos membros da Comissão da Verdade, é mais do que pertinente: “É como se a
Federação alemã de futebol fosse presidida durante a Copa do Mundo de 2006 por
um ex-membro do Partido Nazista”. Para completar, o sujeito ainda foi pego
subtraindo uma medalha de um jogador corinthiano da categoria júnior. Como é
possível pensar em futebol decente tendo situações como essa, de fazer inveja à
República de Sucupira?
Roberto Marinho com alguns dos baluartes da Democracia brasileira: Costa e Silva (autor do AI-5), Figueiredo e ACM.
Continua......
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