quarta-feira, 29 de agosto de 2012
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Artigo da REVISTA TRABALHO NECESSÁRIO
Este artigo trata da transformação urbana da cidade do Rio de Janeiro entre as últimas
décadas do século XIX e a primeira do XX, destacando o processo de desruralização que
se efetua em paralelo. Procuro evidenciar que tal processo marcaria no contexto urbano
e suburbano carioca a consolidação da lógica de mercado sobre dois elementos
essenciais de uma sociedade: a terra e as necessidades básicas de reprodução de sua
população (satisfeitas por meio da obtenção de gêneros alimentícios, principalmente).
Para tanto, desenvolvo a análise tendo em vista a chave de leitura possibilitada pelo
conceito de metabolismo social.
Outros artigos podem ser consultados em: http://www.uff.br/trabalhonecessario/
Outros artigos podem ser consultados em: http://www.uff.br/trabalhonecessario/
domingo, 26 de agosto de 2012
Companheiros do RIO,
ATO NO LARGO DA CARIOCA PARA RECEPCIONAR A NOSSA DOCE PRESIDENTA DILMA E O MERCADANTE!! ELES MERECEM - TODOS AO CENTRO DO RIO AMANHÃ!!!!!
ATO NO LARGO DA CARIOCA PARA RECEPCIONAR A NOSSA DOCE PRESIDENTA DILMA E O MERCADANTE!! ELES MERECEM - TODOS AO CENTRO DO RIO AMANHÃ!!!!!
Amanhã, segunda-feira,27 08, a Presidente Dilma e o Ministro Mercadante, irão participar de uma cerimônia de entrega de prêmios no Teatro Municipal, às 15 horas. O comando estadual de greve está convocando um ato, às 13 horas, no Largo da Carioca. O sentido do ato é demostrar à Presidenta e ao Ministro, assim como também para a imprensa, nossa indignação pela intransigência do governo em abrir negociações efetivas com os funcionários públicos federais em greve. Convocamos a todos para participar levando faixas, panfletos, vuvuzelas, camisetas da greve, etc., assim como também exortamos a fazer a mais ampla divulgação deste ato.
abrrços
CLG-Adufrj-SSind
CLG-Adufrj-SSind
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Dá-lhe Brasil. Rumo ao fracasso!!!!
Notas sobre as últimas façanhas do gigante adormecido do futebol mundial.
http://sociologianf.blogspot.com.br/2012/08/todos-seguram-essa-selecao-ate-o-taiti.html
Notas sobre as últimas façanhas do gigante adormecido do futebol mundial.
http://sociologianf.blogspot.com.br/2012/08/todos-seguram-essa-selecao-ate-o-taiti.html
terça-feira, 21 de agosto de 2012
Das folhas de jornal para a realidade: lutas pela
terra no Sertão Carioca, pequenos lavradores e imprensa comunista (1945-1964)
Este estudo enfatiza a participação de jornais comunistas nos
conflitos por terra no Sertão Carioca (antiga zona rural da cidade do Rio de
Janeiro). A crescente importância daqueles eventos despertou o interesse de
numeroso grupos urbanos políticos, particularmente o Partido Comunista do
Brasil. O objetivo dessa pesquisa é analisar o processo histórico e social de
formação dessas relações entre grupos de camponeses e os jornais comunistas no
período 1945-1964.
Este artigo pode ser lido na íntegra na Revista Convergência Crítica, nº 1
sábado, 18 de agosto de 2012
Artigo sobre o Sertão Carioca
Expansão urbana, mercado imobiliário e conflitos de terra no Sertão Carioca (1940-1964)
Texto completo em:
Confluenze. Rivista di Studi Iberoamericani
Expansão urbana, mercado imobiliário e conflitos de terra no Sertão Carioca (1940-1964)
Leonardo Soares dos Santos
Abstract
The rural zone of Rio de Janeiro was place of a lot conflicts and struggles for property of land, especially those drove to agriculture activities. This work debate how this process was connected to urbanization of rural areas during 40’s to 60’s. The end of Sertão Carioca (name of rural zone, how was called for all) represented the triumph of an aggressive urban expansion. The Rio de Janeiro’s rural zone urbanization case express the historic way of urban evolution of almost every cities in Brazil: an urbanization based in a few economic groups and yours interests with support of State and governments.
Keywords
urbanization; urban agriculture; rural zone; Rio de Janeiro; Sertão Carioca
Texto completo em:
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
É SIMPLESMENTE REVOLTANTE O RELATO DO JORNALISTA COSME RÍMOLI SOBRE AS CONDIÇÕES DO ALOJAMENTO DOS MENINOS DAS CATEGORIAS DE BASE DO VASCO. UM ABSURDO. PARECE MAIS COM A DESCRIÇÃO DE UM NAVIO NEGREIRO, DE UM CAMPO DE CONCENTRAÇÃO, DE UM PRESÍDIO DOS CONFINS DO PAÍS. MEU DEUS, QUANTO ABSURDO......
"Banheiros
Alguns vasos
sanitários encontravam-se interditados ou sem portas de isolamento.
Sendo certo que um
dos banheiros não dispunha de chuveiros para o banho dos atletas.
(Eles) faziam uso de
garrafas de refrigerante de dois litros para se banharem."
Cozinha
Alarmantes,
sobretudo, no tocante à higiene no preparo dos alimentos.
E à precariedade do
espaço destinado às refeições dos adolescentes.
As frutas (bananas) e
a salada estavam expostas às moscas.
(As bananas ficavam)
em uma mesa localizada ao lado do latão de lixo,
A geladeira da
cozinha estava bastante suja.
Quartos
Os beliches
apresentavam-se inadequados, muitos não dispunham de colchões.
Além de estarem
enferrujados e com a sua estrutura comprometida, colocando em risco a saúde e a
integridade física dos adolescentes.
Um jovem
"aguardava há trinta dias o desligamento de um dos atletas para que sua
cama fosse disponibilizada.
Evidente disparidade
das condições de conforto entre os quartos.
Tal distinção (...)
estava relacionada à vinculação ou não dos direitos federativos do jovem atleta
a empresários de futebol ou empresa investidora."
Esses são trechos do
terrível relatório de promotores de Justiça do Rio de Janeiro.
Ele escancara as
condições a que 60 meninos eram expostos no alojamento do Vasco da Gama.
As investigações
começaram quando o garoto Wendel Junior Venâncio da Silva, de 14 anos, morreu.
Ele fazia testes no
clube em fevereiro.
Não havia médico ou
sequer um enfermeiro para atendê-lo quando passou mal em campo.
Muito menos uma
ambulância.
Foi levado de carro
até o hospital onde chegou morto.
Em fevereiro, no Rio
de Janeiro, o calor era senegalesco.
O menino não ficou
nos péssimos alojamentos vascaínos.
Ficou em uma pensão
em frente ao local onde os meninos treinam.
Conhecida como Gama
Alojamento, tal a promíscua intimidade com o clube.
Um casal descobriu
ser uma excelente fonte de renda explorar o sonho dos meninos.
E oferece acomodações
em uma casa velha, com uma piscina desativada.
"Mãe Loura"
é como a dona da pensão gosta de ser chamada.
Ela confessou ao
jornal Extra ter sida aconselhada por funcionários do Vasco a aproveitar a
situação.
Jovens do Brasil todo
chegavam ao Vasco e não tinham onde ficar, sem rumo.
Com pouquíssimo
dinheiro, muitas vezes não tinham nem o que comer.
Não tem problema.
"Mãe Loura"
foi criativa.
Na tabela há preço
diferenciado nas diárias para quem não se alimenta na sua pensão.
Ele cobra R$ 30 por
dia, R$ 120 por semana e R$ 200 por quinzena e R$ 350 sem comida.
Quem tiver dinheiro
para se alimentar paga R$ 45, R$ 190, R$ 350 e R$ 500.
Os mais garotos, para
sobreviver, comem o podem, geralmente pão, algum frio barato, como mortadela, e
refrigerante.
"Mãe Loura"
não quer nem saber.
Só se preocupa em
avisar que há uma possibilidade para os abastados.
Por R$ 50 ela lava
roupa dos meninos.
E por mais R$ 30
passa.
Um grande negócio, já
que é público que o Vasco não dá comida para os meninos que fazem testes no
clube.
Só recebem
alimentação os que já são do clube.
Ou aos 'federados',
que já pertencem à uma federação de futebol, o que lhes garante status de
possíveis bons jogadores.
Foi na pensão de
Elizabete Souza, que, de sentimento materno não tem nada, onde Wendel passou
seus últimos três dias de vida.
Lá, dividiu um quarto
de sete camas com outros três meninos.
Há um só banheiro
para 15 pessoas.
Lógico que "Mãe
Loura" não sabe se Wendel comeu ou não quando ia para os testes no Vasco.
Sua preocupação é
receber o dinheiro de quem usa a sua pensão.
Não há limites para a
indecência.
Mãe Loura ainda criou
uma espécie de procuração para os meninos que não tenham empresários.
Pais ingênuos dão à
Elizabete a responsabilidade sobre seus filhos.
Até para levá-los, em
caso de recusa do Vasco, a um novo período de testes em outros clubes.
Lógico, desde que os
garotos fiquem hospedados na sua pensão.
Se passarem, se derem
certo, se forem aprovados, a conversa é outra.
Ela pode até se
tornar empresária.
O negócio já está
dando tão certo que ela está comprando casas para expandir sua pensão.
Os lucros são
enormes.
Essas são as
condições a que um menino é exposto se quiser tentar a sorte no Vasco.
A Justiça interditou
o alojamento do clube.
Têm cinco dias para
melhorar as condições ou indicar outro local para levar seus 60 garotos.
Com a ameaça da
proibição de manter as categorias infantil e juvenil.
O que acontece no
grande Vasco da Gama é de uma vergonha absurda.
A responsabilidade é
toda do presidente e deputado estadual Roberto Dinamite.
Eurico Miranda foi
acusado por ele de ser o retrato do atraso como dirigente esportivo.
Como classificar
Roberto?
Como um presidente
deixa os garotos expostos a estas condições?
A desculpa fica entre
a incompetência ou a omissão.
Que a juíza Katerine
Jathay Kitso Nygaard, da Vara da Infância e da Juventude, não fraqueje.
Nem se deixe enganar.
E faça do Vasco e do
caso Wendel um marco.
Chega de tanto
descaso com os meninos do Brasil.
Basta de
aproveitadoras "Mães Louras".
Que a morte de Wendel
não tenha sido em vão...
Fonte:
http://esportes.r7.com/blogs/cosme-rimoli/2012/08/15/meninos-usando-garrafas-de-refrigerante-para-tomar-banho-camas-sem-colchoes-cozinha-nojenta-tudo-isso-ou-a-pensao-da-mae-loura-a-justica-descobriu-a-indecencia-a-que-o-vasco-expoe-seus-meninos-a-mort/
sábado, 11 de agosto de 2012
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
As inscrições são feitas em <sistemas.uff.br/cpd> (sem www)
pagina=58&data=03/08/2012
1 - Departamento de Ciências Sociais de Campos dos Goytacazes
(COC)
Área de Concentração: Sociologia
Processo nº.: 23069.052139/2012-91
Número de Vagas: 01 (uma).
Tipo de Contrato: Temporário
Regime de Trabalho: 20 (vinte) horas semanais.
Classe: Assistente.
Titulação exigida para a classe: Graduação em Ciências Sociais
ou História e Mestrado em Ciências Sociais, Antropologia, Sociologia
ou Política.
Tipo de seleção: Prova Escrita, Prova Didática e Análise de
Currículo.
Período de Inscrição: 06/08/2012 a 16/08/2012.
Seleção: 27/08/2012 a 30/08/2012.http://www.in.gov.br/imprensa/
pagina=57&data=03/08/2012
CLASSE: ADJUNTO - REGIME: 40H DE
1- INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
Departamento de Ciências Sociais de Campos
Área de conhecimento: Sociologia e Ensino de Sociologia
(uma vaga). Provas escrita e didática, no período de 01/10/2012a
05/10/2012. Formação dos Candidatos: Graduação em Ciências Sociais,
História, Filosofia, Sociologia, Antropologia, Pedagogia, Direito,
Ciência Política, Comunicação Social, Psicologia, Geografia.
Mestrado em Ciências Sociais, Sociologia, Antropologia, Ciência Política,
Políticas Sociais, História, Filosofia, Educação, Cognição e
Linguagem, Memória Social, Planejamento Urbano, Saúde Coletiva.
Doutorado em Ciências Sociais, Sociologia, Antropologia, Ciência
Política, Políticas Sociais, História, Filosofia, Educação, Cognição e
Linguagem, Memória Social, Planejamento Urbano, Saúde Coletiva.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Revista Convergência Crítica
Chamada para artigos – edição n. 02
Data-limite: 31 de Agosto de 2012.
Janeiro – Junho/2012
ISSN 2238-9288
Dossiê Temático – “Teoria Crítica Contemporânea”
A Revista Convergência Crítica é uma publicação do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Teoria Social (NEPETS) da Universidade Federal Fluminense (UFF), sediado no Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes (PUCG). Através desta chamada, vimos convidar os pesquisadores a enviarem artigos para o Dossiê Temático “Teoria Crítica Contemporânea”.
No passar das décadas a “teoria crítica” vivenciou inúmeras transformações e influências. Procedente do século XIX, originada no trabalho de Karl Marx, as encruzilhadas apresentadas pela história no decorrer do século XX permitiram reconsiderações, revisões e reelaborações profundas. Os resultados disso, permeada pelo diálogo teórico com tradições do pensamento humano até então inimagináveis, resultaram em sínteses tão criativas quanto polêmicas e demonstraram uma plasticidade desta matriz teórica que faria corar até mesmo os mais ferrenhos de seus detratores.
Neste espírito, aportamos no século XXI em um cenário de renovação das estruturas sociais onde este desafio, que não é exclusivo da teoria crítica, se faz presente. A imaginação teórica crítica hoje apresenta entrecruzamentos com a teoria psicanalítica, com o individualismo metodológico, na teoria dos sistemas e até mesmo no revival de analogias com as ciências biológicas vide, por exemplo, a terminologia “sistema sócio-metabólico do capital” no onipresente húngaro István Meszáros.
Prosseguindo, mesmo nas reconfigurações da modernidade, questões apresentadas pela teoria crítica original são ainda enfrentadas com bastante vigor. O problema das patologias modernas como a questão do fetichismo, a desigualdade no campo da redistribuição que convive com a contradição da produção coletiva da riqueza e a tendência eminente de uma crise sistêmica. Cabe notar que estes temas “clássicos” encontram-se hoje com uma noção não ingênua da relação homem e natureza conectada a um olhar materialista sobre os dilemas da questão ambiental, sem desconsiderar a produção crítica sobre as novas sociabilidades no mundo interconectado após o advento da internet.
Diante destes cenários, vimos a público convidar pesquisadores a pensar conosco a teoria crítica em sua faceta contemporânea. O dossiê “Teoria Crítica Contemporânea” ambiciona apresentar balanços, inovações e novas sínteses desta tradição teórica que não se dissociou das perspectivas emancipatórias de outrora. Contudo, esta tradição das ciências que ainda fascina e estrutura o labor de diversas gerações de pesquisadores, não deixou de considerar a sua necessária renovação ante um mundo que vivencia modificações desconcertantes.
Atenciosamente,
Os organizadores do Dossiê “Teoria Crítica Contemporânea”
Prof. George Gomes Coutinho (COC/PUCG/UFF)
Prof. Victor Leandro Chaves Gomes (COC/PUCG/UFF)
http://www.uff.br/periodicoshumanas/index.php/convergenciacritica
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Carta à presidenta Dilma
Carta à presidenta Dilma
A greve dos professores das Instituições Federais de Ensino (IFE) prolonga-se sem que o governo apresente proposta que atenda as reivindicações dos docentes – recomposição salarial, carreira e melhores condições de trabalho. Sabemos que a educação pública, gratuíta e de qualidade deve ser prioridade do governo e lastro de uma nação o que é impossível sem a valorização do trabalho docente e das IFE.
Por isso, exigimos sua ação imediata para o atendimento das reivindicações dos professores.
Atenciosamente,
Um pobre coitado que nunca soube ganhar dinheiro e resolveu ser professor!!!
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Publicamos aqui um interessantíssimo texto do professor José Ribamar.
Dom Eugênio Sales era, com todo o respeito, o cardeal da ditadura
POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE
O tratamento que a mídia deu à morte do cardeal dom Eugenio Sales, ocorrida na última segunda-feira, com direito à pomba branca no velório, me fez lembrar o filme alemão "Uma cidade sem passado", de 1990, dirigido por Michael Verhoven. Os dois casos são exemplos típicos de como o poder manipula as versões sobre a história, promove o esquecimento de fatos vergonhosos, inventa despudoradamente novas lembranças e usa a memória, assim construída, como um instrumento de controle e coerção.
Comecemos pelo filme, que se baseia em fatos históricos. Na década de 1980, o Ministério da Educação da Alemanha realiza um concurso de redação escolar, de âmbito nacional, cujo tema é "Minha cidade natal na época do III Reich". Milhares de estudantes se inscrevem, entre eles a jovem Sônia Rosenberger, que busca reconstituir a história de sua cidade, Pfilzing – como é denominada no filme – considerada até então baluarte da resistência antinazista.
Mas a estudante encontra oposição. As instituições locais de memória – o arquivo municipal, a biblioteca, a igreja e até mesmo o jornal Pfilzinger Morgen – fecham-lhe suas portas, apresentando desculpas esfarrapadas. Ninguém quer que uma "judia e comunista" futuque o passado. Sônia, porém, não desiste. Corre atrás. Busca os documentos orais. Entrevista pessoas próximas, familiares, vizinhos, que sobreviveram ao nazismo. As lembranças, contudo, são fragmentadas, descosturadas, não passam de fiapos sem sentido.
A jovem pesquisadora procura, então, as autoridades locais, que se recusam a falar e ainda consideram sua insistência como uma ameaça à manutenção da memória oficial, que é a garantia da ordem vigente. Por não ter acesso aos documentos, Sônia perde os prazos do concurso. Desconfiada, porém, de que debaixo daquele angu tinha caroço – perdão, de que sob aquele chucrute havia salsicha – resolve continuar pesquisando por conta própria, mesmo depois de formada, casada e com filhos, numa batalha desigual que durou alguns anos.
Hostilizada pelo poder civil e religioso, Sônia recorre ao Judiciário e entra com uma ação na qual reivindica o direito à informação. Ganha o processo e, finalmente, consegue ingressar nos arquivos. Foi aí, no meio da papelada, que ela descobriu, horrorizada, as razões da cortina de silêncio: sua cidade, longe de ter sido um bastião da resistência ao nazismo, havia sediado um campo de concentração. Lá, os nazistas prenderam, torturaram e mataram muita gente, com a cumplicidade ou a omissão de moradores, que tentaram, depois, apagar essa mancha vergonhosa da memória, forjando um passado que nunca existiu.
Os documentos registraram inclusive a prisão de um judeu, denunciado na época por dois padres, que no momento da pesquisa continuavam ainda vivos, vivíssimos, tentando impedir o acesso de Sônia aos registros. No entanto, o mais doloroso, era que aqueles que, ontem, haviam sido carrascos, cúmplices da opressão, posavam, hoje, como heróis da resistência e parceiros da liberdade. Quanto escárnio! Os safados haviam invertido os papéis. Por isso, ocultavam os documentos.
Deus tá vendo
E é aqui que entra a forma como a mídia cobriu a morte do cardeal dom Eugênio Sales, que comandou a Arquidiocese do Rio, com mão forte, ao longo de 30 anos (1971-2001), incluindo os anos de chumbo da ditadura militar. O que aconteceu nesse período? O Brasil já elegeu três presidentes que foram reprimidos pela ditadura, mas até hoje, não temos acesso aos principais documentos da repressão.
Se a Comissão Nacional da Verdade, instalada em maio último pela presidente Dilma Rousseff, pudesse criar, no campo da memória, algo similar à operação "Deus tá vendo", organizada pela Policia Civil do Rio Grande do Sul, talvez encontrássemos a resposta. Na tal operação, a Polícia prendeu na última quinta-feira quatro pastores evangélicos envolvidos em golpes na venda de automóveis. Seria o caso de perguntar: o que foi que Deus viu na época da ditadura militar?
Tem coisas que até Ele duvida. Tive a oportunidade de acompanhar a trajetória do cardeal Eugênio Sales, na qualidade de repórter da ASAPRESS, uma agência nacional de notícias arrendada pela CNBB em 1967. Também, cobri reuniões e assembleias da Conferência dos Bispos para os jornais do Rio – O Sol, O Paiz e Correio da Manhã, quando dom Eugênio era Arcebispo Primaz de Salvador. É a partir desse lugar que posso dar um modesto testemunho. Os bispos que lutavam contra as arbitrariedades eram Helder Câmara, Waldir Calheiros, Cândido Padin, Paulo Evaristo Arns e alguns outros mais que foram vigiados e perseguidos. Mas não dom Eugênio, que jogava no time contrário. Um dos auxiliares de dom Helder, o padre Henrique, foi torturado até a morte em 1969, num crime que continua atravessado na garganta de todos nós e que esperamos seja esclarecido pela Comissão da Verdade. Padres e leigos foram presos e torturados, sem que escutássemos um pio de protesto de dom Eugênio, contrário à teologia da libertação e ao envolvimento da Igreja com os pobres.
O cardeal Eugenio Sales era um homem do poder, que amava a pompa e o rapapé, muito atuante no campo político. Foi ele um dos inspiradores das "candocas" – como Stanislaw Ponte Preta chamava as senhoras da CAMDE, a Campanha da Mulher pela Democracia. As "candocas" desenvolveram trabalhos sociais nas favelas exclusivamente com o objetivo de mobilizar setores pobres para seus objetivos golpistas. Foram elas, as "candocas", que organizaram manifestações de rua contra o governo democraticamente eleito de João Goulart, incluindo a famigerada "Marcha da família com Deus pela liberdade", que apoiou o golpe militar, com financiamento de multinacionais, o que foi muito bem documentado pelo cientista político René Dreifuss, em seu livro "1964: A Conquista do Estado" (Vozes, 1981). Ele teve acesso ao Caixa 2 do IPES/IBAD.
Nós, toda a torcida do Flamengo e Deus que estava vendo tudo, sabíamos que dom Eugênio era, com todo o respeito, o cardeal da ditadura. Se não sofro de amnésia – e não sofro de amnésia ou de qualquer doença neurodegenerativa – posso garantir que na época ele nem disfarçava, ao contrário manifestava publicamente orgulho do livre trânsito que tinha entre os militares e os poderosos.
"Quem tem dúvidas…basta pesquisar os textos assinados por ele no JB e n'O Globo" – escreve a jornalista Hildegard Angel, que foi colunista dos dois jornais e avaliou assim a opção preferencial do cardeal:
"A Igreja Católica, no Rio, sob a égide de dom Eugenio Salles, foi cada vez mais se distanciando dos pobres e se aproximando, cultivando, cortejando as estruturas do poder. Isso não poderia acabar bem. Acabou no menor percentual de católicos no país: 45,8%…"
Portões do Sumaré
Por isso, a jornalista estranhou – e nós também – a forma como o cardeal Eugenio Sales foi retratado no velório pelas autoridades. Ele foi apresentado como um combatente contra a ditadura, que abriu os portões da residência episcopal para abrigar os perseguidos políticos. O prefeito Eduardo Paes, em campanha eleitoral, declarou que o cardeal "defendeu a liberdade e os direitos individuais". O governador Sérgio Cabral e até o presidente do Senado, José Sarney, insistiram no mesmo tema, apresentando dom Eugênio como o campeão "do respeito às pessoas e aos direitos humanos".
Não foram só os políticos. O jornalista e acadêmico Luiz Paulo Horta escreveu que dom Eugênio chegou a abrigar no Rio "uma quantidade enorme de asilados políticos", calculada, por baixo, numa estimativa do Globo, em "mais de quatro mil pessoas perseguidas por regimes militares da América do Sul". Outro jornalista, José Casado, elevou o número para cinco mil. Ou seja, o cardeal era um agente duplo. Publicamente, apoiava a ditadura e, por baixo dos panos, na clandestinidade, ajudava quem lutava contra. Só faltou arranjarem um codinome para ele, denominado pelo papa Bento XVI como "o intrépido pastor".
Seria possível acreditar nisso, se o jornal tivesse entrevistado um por cento das vítimas. Bastaria 50 perseguidos nos contarem como o cardeal com eles se solidarizou. No entanto, o jornal não dá o nome de uma só – umazinha – dessas cinco mil pessoas. Enquanto isto não acontecer, preferimos ficar com o corajoso depoimento de Hildegard Angel, cujo irmão Stuart, foi torturado e morto pelo Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Sua mãe, a estilista Zuzu Angel, procurou o cardeal e bateu com a cara na porta do palácio episcopal.
Segundo Hilde, dom Eugênio "fechou os olhos às maldades cometidas durante a ditadura, fechando seus ouvidos e os portões do Sumaré aos familiares dos jovens ditos "subversivos" que lá iam levar suas súplicas, como fez com minha mãe Zuzu Angel (e isso está documentado)". Ela acha surpreendente que os jornais queiram nos fazer acreditar "que ocorreu justo o contrário!", como no filme "Uma cidade sem passado".
Mas não é tão surpreendente assim. O texto de Hildegard menciona a grande habilidade, em vida, de dom Eugenio, em "manter ótimas relações com os grandes jornais, para os quais contribuiu regularmente com artigos". As azeitadas relações com os donos dos jornais e com alguns jornalistas em postos-chave continuaram depois da morte, como é possível constatar com a cobertura do velório. A defesa de dom Eugênio, na realidade, funciona aqui como uma autodefesa da mídia e do poder.
Os jornais elogiaram, como uma virtude e uma delicadeza, o gesto do cardeal Eugenio Sales que cada vez que ia a Roma levava mamão-papaia para o papa João Paulo II, com o mesmo zelo e unção com que o senador Alfredo Nascimento levava tucumã já descascado para o café da manhã do então governador Amazonino Mendes. São os rituais do poder com seus rapapés.
"Dentro de uma sociedade, assim como os discursos, as memórias são controladas e negociadas entre diferentes grupos e diferentes sistemas de poder. Ainda que não possam ser confundidas com a "verdade", as memórias têm valor social de "verdade" e podem ser difundidas e reproduzidas como se fossem "a verdade" – escreve Teun A. van Dijk, doutor pela Universidade de Amsterdã.
A "verdade" construída pela mídia foi capaz de fotografar até "a presença do Espírito Santo" no funeral. Um voluntário da Cruz Vermelha, Gilberto de Almeida, 59 anos, corretor de imóveis, no caminho ao velório de dom Eugênio, passou pelo abatedouro, no Engenho de Dentro, comprou uma pomba por R$ 25 e a soltou dentro da catedral. A ave voou e posou sobre o caixão: "Foi um sinal de Deus, é a presença do Espírito Santo" – berraram os jornais. Parece que vale tudo para controlar a memória, até mesmo estabelecer preço tão baixo para uma das pessoas da Santíssima Trindade. É muita falta de respeito com a fé das pessoas.
"A mídia deve ser pensada não como um lugar neutro de observação, mas como um agente produtor de imagens, representações e memória" nos diz o citado pesquisador holandês, que estudou o tratamento racista dispensado às minorias étnicas pela imprensa europeia. Para ele, os modos de produção e os meios de produção de uma imagem social sobre o passado são usados no campo da disputa política.
Nessa disputa, a mídia nos forçou a fazer os comentários que você acaba de ler, o que pode parecer indelicadeza num momento como esse de morte, de perda e de dor para os amigos do cardeal. Mas se a gente não falar agora, quando então? Stuart Angel e os que combateram a ditadura merecem que a gente corra o risco de parecer indelicado. É preciso dizer, em respeito à memória deles, que Dom Eugênio tinha suas virtudes, mas uma delas não foi, certamente, a solidariedade aos perseguidos políticos para quem os portões do Sumaré, até prova em contrário, permaneceram fechados. Que ele descanse em paz!
P.S: O jornalista amazonense Fábio Alencar foi quem me repassou o texto de Hildegard Angel, que circulou nas redes sociais. O doutor Geraldo Sá Peixoto Pinheiro, historiador e professor da Universidade Federal do Amazonas, foi quem me indicou, há anos, o filme "Uma cidade sem passado". Quem me permitiu discutir o conceito de memória foram minhas colegas doutoras Jô Gondar e Vera Dodebei, organizadoras do livro "O que é Memória Social" (Rio de Janeiro: Contra Capa/ Programa de Pós- Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2005). Nenhum deles tem qualquer responsabilidade sobre os juízos por mim aqui emitidos.
José Ribamar Bessa Freire e professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)
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