parte II
CURSO DE HISTÓRIA
ESR/SFC
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Prof. Leonardo Soares
dos Santos
CAMPOS DOS GOYTACAZES
2013
Texto 2: Marx e a metáfora da Estrutura e superestrutura.
“O resultado geral que se me ofereceu e, uma vez ganho, serviu de fio
condutor aos meus estudos, pode ser formulado assim sucintamente: na produção social da
sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes
da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa
de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas
relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real
sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e à qual
correspondem determinadas formas da consciência social. O modo de produção da
vida material é que condiciona o processo da vida social, política e
espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas,
inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência. Numa certa
etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade
entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é apenas
uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais
se tinham até aí movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas,
estas relações transformam-se em grilhões das mesmas. Ocorre então uma época de
revolução social. Com a transformação do fundamento econômico revoluciona-se,
mais devagar ou mais depressa, toda a imensa superestrutura. Na consideração de
tais revolucionamentos tem de se distinguir sempre entre o revolucionamento
material nas condições económicas da produção, o qual é constatável
rigorosamente como nas ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas,
religiosas, artísticas ou filosóficas, em suma, ideológicas, em que os homens
ganham consciência deste conflito e o resolvem. Do mesmo modo que não se julga
o que um indivíduo é pelo que ele imagina de si próprio, tão-pouco se pode
julgar uma tal época de revolucionamento a partir da sua consciência, mas se
tem, isso sim, de explicar esta consciência a partir das contradições da vida
material, do conflito existente entre forças produtivas e relações de produção
sociais. Uma formação social nunca decai antes de estarem desenvolvidas todas
as forças produtivas para as quais é suficientemente ampla, e nunca surgem
relações de produção novas e superiores antes de as condições materiais de
existência das mesmas terem sido chocadas no seio da própria sociedade velha.
Por isso a humanidade coloca sempre a si mesma apenas as tarefas que pode
resolver, pois que, a uma consideração mais rigorosa, se achará sempre que a
própria tarefa só aparece onde já existem, ou pelo menos estão no processo de
se formar, as condições materiais da sua resolução. Nas suas grandes linhas, os
modos de produção asiático, antigo, feudal e, modernamente, o burguês podem ser
designados como épocas progressivas da formação económica e social. As relações
de produção burguesas são a última forma antagónica do processo social da
produção, antagónica não no sentido de antagonismo individual, mas de um
antagonismo que decorre das condições sociais da vida dos indivíduos; mas as
forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao
mesmo tempo, as condições materiais para a resolução deste antagonismo. Com
esta formação social encerra-se, por isso, a pré-história da sociedade humana.
Fonte: MARX,
Karl. Para a crítica da economia política. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1859/01/prefacio.htm. Acesso em: 20/09/2013.
Texto 3: o ponto de partida da produção
material da existência humana.
“A primeira premissa de toda a história humana é, naturalmente, a
existência de indivíduos humanos vivos primeiro fato a constatar é, portanto, a organização física destes
indivíduos e a relação que por isso existe com o resto da natureza. Não podemos
entrar aqui, naturalmente, nem na constituição física dos próprios homens, nem
nas condições naturais que os homens encontraram — as condições geológicas,
hidrográficas, climáticas e outras. Toda a historiografia tem de
partir destas bases naturais e da sua modificação ao longo da história pela
ação dos homens.
O modo como os homens
produzem os seus meios de vida depende, em primeiro lugar, da natureza dos
próprios meios de vida encontrados e a reproduzir.”
Fonte:
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã.
Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/ideologia-alema-oe/cap1.htm#i1. Acesso
em: 20/09/2013.
Texto 4:
uma noção ampliada de modo de produção.
“Este modo da produção não deve ser considerado no seu mero
aspecto de reprodução da existência física dos indivíduos. Trata-se já, isso
sim, de uma forma determinada da atividade destes indivíduos, de uma forma
determinada de exprimirem a sua vida, de um determinado modo de vida dos mesmos. Como exprimem a sua
vida, assim os indivíduos são. Aquilo que eles são coincide, portanto, com a
sua produção, com o que produzem
e também com o como produzem. Aquilo que os indivíduos são
depende, portanto, das condições materiais da sua produção.
Esta produção só surge com o aumento
da população. Ela própria pressupõe, por seu turno, um intercâmbio [Verkehr] dos indivíduos entre
si. A forma deste intercâmbio é, por sua vez, condicionada pela
produção.”
Fonte:
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã.
Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/ideologia-alema-oe/cap1.htm#i1. Acesso
em: 20/09/2013.
Texto 5: a análise das conexões entre representação e estrutura
social
“O fato é, portanto, este: o de determinados indivíduos, que
trabalham produtivamente de determinado modo, entrarem em
determinadas relações sociais e políticas. A observação empírica tem de
mostrar, em cada um dos casos, empiricamente e sem qualquer mistificação e
especulação, a conexão da estrutura social e política com a produção. A
estrutura social e o Estado decorrem constantemente do processo de vida de
determinados indivíduos; mas destes indivíduos não como eles poderão parecer na
sua própria representação ou na de outros, mas como eles são realmente,
ou seja, como agem, como produzem materialmente, como trabalham, portanto, em
determinados limites, premissas e condições materiais que não dependem da sua
vontade.
A produção das ideias,
representações, da consciência está a princípio diretamente entrelaçada com a
atividade material e o intercâmbio material dos homens, linguagem da vida real.
O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens aparecem aqui
ainda como refluxo direto do seu comportamento material. O mesmo se aplica à
produção espiritual como ela se apresenta na linguagem da política, das leis,
da moral, da religião, da metafísica, etc., de um povo. Os homens são os
produtores das suas representações, ideias, etc., mas os homens reais, os
homens que realizam [die wirklichen, wirkenden Menschen], tal como se
encontram condicionados por um determinado desenvolvimento das suas forças
produtivas e do intercâmbio que a estas corresponde até às suas formações mais
avançadas. A consciência [das Bewusstsein], nunca pode
ser outra coisa senão o ser consciente [das bewusste Sein], e o ser dos
homens é o seu processo real de vida. Se em toda a ideologia os homens e as
suas relações aparecem de cabeça para baixo como numa Camera obscura, é porque este
fenômeno deriva do seu processo histórico de vida da mesma maneira que a
inversão dos objetos na retina deriva do seu processo diretamente físico de
vida.”
Fonte:
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã.
Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/ideologia-alema-oe/cap1.htm#i1. Acesso
em: 20/09/2013.
Texto
6:
a filosofia e os conceitos não são a-históricos, muito menos entidades
extra-corpóreas que habitem o plano divino. São expressões de determinada época,
fruto de um contexto bem determinado de relações sociais e históricas.
“Lá onde a especulação cessa, na vida real, começa, portanto, a
ciência real, positiva, a representação da atividade prática, do processo de
desenvolvimento prático dos homens. Cessam as frases sobre a consciência, o
saber real tem de as substituir. Com a representação da realidade, a filosofia
autônoma perde o seu meio de existência. Em seu lugar pode, quando muito,
surgir uma súmula dos resultados mais gerais que é possível abstrair da
consideração do desenvolvimento histórico. Estas abstrações não têm, separadas
da história real, o menor valor. Só podem servir para facilitar a ordenação do
material histórico, para indicar a sequência de cada um dos seus estratos. Mas
não dão, de modo nenhum, como a filosofia, uma receita ou um esquema segundo o
qual as épocas históricas possam ser ajeitadas ou ajustadas. A dificuldade
começa pelo contrário, precisamente quando nos damos à consideração e ordenação
do material, seja de uma época passada seja do presente, à representação real.
A eliminação destas dificuldades está condicionada por premissas que de modo
nenhum podem ser aqui dadas, e que só resultarão claras do estudo do processo
real da vida e da ação dos indivíduos de cada época. Vamos escolher aqui
algumas destas abstrações, que utilizamos em contraposição à ideologia, e vamos
explicá-las com exemplos históricos.”
Fonte:
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã.
Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/ideologia-alema-oe/cap1.htm#i1. Acesso
em: 20/09/2013.
Texto 7: o
conceito de fetiche. Um dos nexos
entre representação e realidade.
“VIMOS como o capital produz, como ele mesmo é
produzido, e como, na qualidade de relação transmutada na essência, resulta do
processo de produção, nele se desenvolve. De um lado, transforma o modo de produção;
do outro, essa forma transmutada do modo de produção e estádio particular do
desenvolvimento das forças produtivas materiais são o fundamento e condição - o
pressuposto da própria formação do capital.
Uma
vez que o trabalho vivo - com a troca entre capital e trabalhador - se
incorpora ao capital e aparece como atividade a este pertencente desde o início
do processo de trabalho, todas as forças produtivas do trabalho social passam a
desempenhar o papel de forças produtivas do capital, do mesmo modo que a forma
social geral do trabalho aparece no dinheiro como propriedade de uma coisa.
Assim, a força produtiva do trabalho social e suas formas particulares se
apresentam então na qualidade de forças produtivas e formas do capital, do
trabalho materializado, das condições materiais (objetivas) do trabalho - as
quais, nessa forma independente, em face do trabalho vivo, se personificam no
capitalista. Eis aí, mais uma vez, a relação pervertida, que, ao tratar do
dinheiro, chamamos de fetichismo.”
Fonte: MARX, Karl. Produtividade do Capital, Trabalho Produtivo e
Improdutivo. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1863/mes/prodcapital.htm. Acesso em: 20/09/2013.
Texto
8: o
cerne de um sistema de domínio não está no arbítrio de quem detêm o poder e sim
nas relações de poder que possibilitam tal dominação.
“Por que a vontade do capitalista norte-americano difere da do
capitalista inglês? E para responder a esta questão, não teriam outro remédio
senão ir além dos domínios da vontade. É possível que venha um padre dizer-me
que Deus quer na França uma coisa e na Inglaterra outra. E se o convido a explicar
esta dualidade de vontade, ele poderá ter a impudência de responder que está
nos desígnios de Deus ter uma vontade em França e outra na Inglaterra. Mas
nosso amigo Weston será, com certeza,a última pessoa a converter em argumento
esta negação completa de todo raciocínio.
Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher
os bolsos o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua
vontade, mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses
limites.”
Fonte: MARX, Karl. Salário, Preço e lucro. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1863/mes/prodcapital.htm. Acesso em: 20/09/2013.
Texto 9: a definição de tipo ideal.
“Um conceito ideal é normalmente uma simplificação e generalização da realidade. Partindo desse modelo, é possível analisar diversos fatos reais como desvios do ideal: Tais construções (...) permitem-nos ver se, em traços particulares ou em seu caráter total, os fenômenos se aproximam de uma de nossas construções, determinar o grau de aproximação do fenômeno histórico e o tipo construído teoricamente. Sob esse aspecto, a construção é simplesmente um recurso técnico que facilita uma disposição e terminologia mais lúcidas.”
Fonte: Weber, Max. A “objetividade” do conhecimento
das ciências sociais; tradução de
Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 2006.
Texto 10: as noções de ação social e causalidade.
“Para a consideração científica que se ocupa com a construção de tipos, todas as conexões de sentido irracionais do comportamento afetivamente condicionadas e que influem sobre a ação são investigadas e expostas, de mais clara, como “desvios” de um curso construído dessa ação, no qual ela é orientada de maneira puramente racional pelo seu fim (...) [para aquela consideração] é conveniente verificar primeiro como se teria desenrolado a ação caso se tivesse conhecimento de todas as circunstâncias e de todas as intenções dos protagonistas e a escolha dos meios ocorresse de maneira estritamente racional orientada pelo seu fim, conforme a experiência que consideramos válida. Somente esse procedimento possibilitará a imputação causal dos desvios às irracionalidades que os condicionam.”
Fonte:
Weber, Max. Economia e
Sociedade: fundamentos de
sociologia compreensiva. Volume 1; tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe
Barbosa; revisão técnica de Gabriel Cohn. Brasília, DF: Editora Universidade de
Brasília: São Paulo, 2000.
Texto 11: a
centralidade do indivíduo na análise weberiana.
"não
são, naturalmente, mesmo quando apresentam uma 'evidência' muito grande, mais
do que meras hipóteses para uma imputação causal. Faz-se necessário, portanto,
uma verificação na qual se emprega os mesmos meios como em qualquer outra
hipótese. Elas valem para nós como hipóteses utilizáveis enquanto vemos uma
'possibilidade', que é muito diferente de caso para caso, de poder supor que
existam cadeias de motivações 'providas de sentido.
[...]
exatamente por esta razão, nesta maneira de ver, o indivíduo constitui o limite e o único portador de um comportamento
provido de sentido".
Fonte: WEBER, Max. A
Ciência como vocação. In: WRIGHT MILLS, C. E GERTH, H.H. Org. Ensaios de Sociologia.
5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982.
Texto
11: a historicidade dos conceitos e das idéias
“Ora, os costumes e as idéias que
determinaram esse tipo, não fomos nós, individualmente, que os fizemos. São
produto da vida em comum e exprimem suas necessidades. São mesmo, na sua maior
parte, obra das gerações passadas. Todo o passado da humanidade contribuiu para
estabelecer esse conjunto de princípios
que dirigem a educação de hoje; toda nossa história aí deixou traços,
como também o deixou a história dos povos que nos precederam. Da mesma forma,
os organismos superiores trazem em si como que um eco de toda a evolução
biológica de que são o resultado. Quando se estuda historicamente a maneira
pela qual se formaram e se desenvolveram os sistemas de educação, percebe-se
que eles dependem da religião, da organização política, do grau de
desenvolvimento das ciências, do estado das indústrias, etc. Separados de todas
essas causas históricas, tornam-se incompreensíveis. Como, então poderá um
indivíduo pretender reconstruir, pelo esforço único de sua reflexão, aquilo que
não do pensamento individual? Ele não se encontra em face de uma tabula rasa,
sobre a qual poderia edificar o que quisesse, mas diante de realidades que não
podem ser criadas, destruídas ou transformadas à vontade. Não podemos agir
sobre elas senão na medida em que aprendemos a conhecê-las, se não nos metermos
a estudá-las, pela observação, como o físico estuda a matéria inanimada, e o
biologista, os corpos vivos”.
Fonte:
DURKHEIM, Émile. Educação como processo socializador: função
homogeneizadora e função diferenciadora. Disponível em: http://www.gutierrez.pro.br/cdpead/pead/textos/durkheim.pdf. Acesso em: 21 de
outubro de 2013.
Texto
12: método e fato social.
“Em face das doutrinas práticas,
nosso método permite e requer a mesma independência. A sociologia, assim
entendida, não será nem individualista, nem comunista, nem socialista, no
sentido que se dá vulgarmente a essas palavras. Por princípio, irá ignorar
essas teorias, às quais não poderia reconhecer valor científico, já que elas
tendem diretamente, não a exprimir os fatos, mas a reformá-los. Pelo menos, se
se interessa por elas, é somente na medida em que as vê como fatos sociais
capazes de ajudá-la a compreender a realidade social, ao manifestarem as
necessidades que movem a sociedade. Isso não quer dizer, porém, que a sociologia
deva se desinteressar das questões práticas. Pôde-se ver, ao contrário, que
nossa preocupação constante era orientá-la de maneira que pudesse alcançar
resultados práticos. Ela depara necessariamente com esses problemas ao término
de suas pesquisas. Mas, exatamente por só se apresentarem a ela nesse momento e
por decorrerem portanto dos fatos e não das paixões, pode-se prever que tais
problemas devam se colocar para o sociólogo em termos muito diferentes do que
para a multidão, e que as soluções, aliás parciais, que ele é capaz de propor.não
poderiam coincidir exatamente com nenhuma daquelas nas quais se detêm os
partidos. O papel da sociologia, desse ponto de vista, deve justamente
consistir em nos libertar de todos os partidos, não tanto por opor uma doutrina
às doutrinas, e sim por fazer os espíritos assumirem, diante de tais questões,
uma atitude especial que somente a ciência pode proporcionar pelo contato
direto com as coisas: Com efeito, somente ela pode ensinar a tratar com
respeito, mas sem fetichismo, as instituições históricas sejam elas quais
forem, fazendo-nos perceber o que elas, têm ao mesmo tempo de necessário e de
provisório, sua força de resistência ê sua infinita variabilidade.
Em segundo lugar, nosso método é objetivo. Ele é inteiramente dominado pela idéia de que os fatos sociais são coisas e como tais devem ser tratados. Certamente, esse princípio se encontra, sob forma um pouco diferente, na base das doutrinas de Comte e de Spencer. Mas esses grandes pensadores deram muito mais sua fórmula teórica do que o puseram em prática. Para que ela não permanecesse letra morta, não bastava promulgá-la; era preciso torná-la a base de toda uma disciplina que se apoderasse do cientista no momento em que ele abordasse o objeto de suas pesquisas e que o acompanhasse em todos os seus passos. Foi a instituir essa disciplina que nos dedicamos. Mostramos como o sociólogo deveria afastar as noções antecipadas que possuía dos fatos, a fim de colocar-se diante dos fatos mesmos; como deveria atingi-los por seus caracteres mais objetivos; como deveria requerer deles próprios o meio de classificá-los em saudáveis e em mórbidos; como, enfim, deveria seguir o mesmo princípio tanto nas explicações que tentava quanto na maneira pela qual provava essas explicações. Pois, quando se tem o sentimento de estar em presença de coisas, nem sequer se pensa mais em explicá-las por cálculos utilitários ou por raciocínios de qualquer espécie. Compreende-se muito bem a distância que há entre tais causas e tais efeitos. Uma coisa é uma força que não pode ser engendrada senão por outra força. Buscam-se então, para explicar os fatos sociais, energias capazes de produzi-los. As explicações não apenas são outras, como são demonstradas de outro modo, ou melhor, é somente então que se sente a necessidade de demonstrá-las. Se os fenômenos sociológicos forem apenas sistemas de idéias objetivas, explicá-los é repensá-los em sua ordem lógica e essa explicação é sua própria prova; quando muito será o caso de confirmá-la por alguns exemplos. Ao contrário, somente experiências metódicas são capazes de arrancar das coisas seu segredo.”
Fonte: DURKHEIM, Émile. As
regras do método sociológico. Disponível em:
http://www.galileu.radiocb.com/ebooks/durkheim_as_regras_do_metodo_sociologico.pdf.
Acesso em: 21 de outubro de 2013.