sábado, 27 de abril de 2013

Crônicas de um futebol crônico




O texto que ora apresentamos faz questão de ser ridículo. Pois quanto mais nos deparamos com os descalabros do cenário do futebol nacional, só apelando para o grotesco para poder digerir um pouco de tanta sandice empurrada à seco em nossas goelas pela imprensa, cartolada e “professores de futebol”.

Mais do que um ensaio ele busca propor um exercício de raciocínio pela via do absurdo e do tragicômico. Exercício certamente bastante espúrio, mas ao fim e ao cabo frutífero, pois procura o esclarecimento dos aspectos que permeiam as estruturas arcaicas e selvagens do futebol brasileiro, e carioca em particular.

Afinal, quais são as questões que ocupam o primeiro plano hoje no futebol brasileiro:

Algum esquema tático inovador foi descoberto e se encontra em desenvolvimento por um ou mais times, ou pela própria seleção?

Resposta: não!

Há grande leva de jogadores descobertos? Uma safra de primeiríssima que foi “colhida” e se encontra agora enchendo os olhos de todo o mundo?

Resposta: não!

Os campeonatos locais esbanjam vitalidade, com estádios apinhados de gente, rendas fabulosas em todos os jogos, partidas espetaculares, gols fantásticos, jogadas incríveis?

Resposta: não!

Os clubes se encontram superavitários, pujantes, com saúde financeira esplendorosa?

Resposta: não!

Mas, afinal, o que se passa nessa terra de meu Deus? Vejamos apenas as três situações mais prementes nessa segunda quinzena de abril de 2013, há pouco mais de um ano da Copa de 2014.

Vamos começar por um episódio bem fresquinho em nossas vilipendiadas retinas. Fim de jogo, o time do Grêmio, treinado pelo Van Der Ley Luxemburro – fino e charmoso – consegue seguir para a próxima fase da Copa Libertadores com muito custo. Eliminava para isso o time do Huachipato, do Chile. Terminado o jogo, Var Der Ley decide tirar um sarro com a cara dos chilenos e lhes lança, com a cara mais risonha e debochada, a seguinte frase: “se van de vacaciones!!”. Pra quê? É a senha para uma grande batalha campal. Vanderley é impiedosamente perseguido. Por pura sorte não é surrado à base de pisadas. Sim, pois ele acabou caindo de bunda no chão. Alguns torcedores invadem o relvado. A polícia de choque da Dinamarca, isto é, do Chile impede uma trajédia.

Mais um papelão. Algo muito frequente nos gramados europeus. Mas a vergonha não para por aí. Pelo Twitter, Edmundo, ex-jogador, condenado pela Justiça pelo assassinato de duas pessoas num acidente automobilístico no remoto ano de 1995 (sim, ele foi condenado, mas não passou uma noite na prisão, vá entender as leis holandesas, isto é, brasileiras...), e desafeto de Van Der Ley, faz questão de postar: “Vc mereceu filho da puta...”. Talvez aconselhado por amigos, Ed Mund, cujo codinome é bastante ilustrativo de sua personalidade (Animal, “homenagem” de um radialista paulista), resolve maneirar. E num rompante de lucidez, refaz o comentário: “Vc mereceu vagabundo....”





Toda a situação é sem dúvida, de muito escândalo.  Mas quisera Deus que os vexames do futebol brasileiro terminassem por ai. Vejam o campeonato carioca. Todos os estádios do Rio foram interditados. O Engenhão, por exemplo, não tem mais do que 6 anos. Mas parte da sua estrutura se encontra em adiantado estado de decomposição. A empreiteira responsável pela obra só reparou no problema justamente depois de expirar o prazo de garantia da obra. Agora, com esse lapso, a municipalidade terá de arcar com os custos das reformas.

Vamos ao segundo case. O caso do Maracanã é mais aberrante. Fechado para a sua enésima obra será reaberto para uma pelada reunindo os amigos de Bebeto, de um lado, e os amigos de Ronaldo, de outro. Bebeto é deputado estadual, incapaz de fazer uma crítica aos rumos que a Copa do Brasil tem tomado: obras superfaturadas, uma série de outras irregularidades (comida estragada, problemas de segurança dos trabalhadores envolvidos, licitações obscuras, até uma escola e um museu resolveram demolir....), prazos estourados. Bebeto se comporta da mesma forma como se comportava nos tempos em que era apenas jogador de futebol. Talentoso, mas sem nenhuma personalidade, nunca se impunha, apático em certas ocasiões. Os adversários, não sem razão, o tachavam de “bebê chorão”.

Já Ronaldo, ex-craque do PSV, tem postura bem pior. Depois de abandonar os campos resolveu se tornar empresário. Principalmente de jogadores de futebol. Mas não só. Até lutadores de MMA ele decidiu empresariar. Não satisfeito aceitou fazer parte do COL, como se isso não implicasse em nenhum conflito de interesses. Para piorar aceitou o convite para ser comentarista especial do canal detentor dos direitos de transmissão da Copa no país, a TV Globo.

A postura dos dois protagonistas do jogo de reabertura do Maracanã e a (falta) de postura deles diante da Copa é ilustrativo do cenário ético dessa pocilga chamada Brasil.

Após a Copa das Confederações o estádio será fechado de novo. O motivo: será reformado para a Copa do Mundo. Após a Copa do Mundo será fechado novamente, por mais alguns anos. O motivo: será reformado para as Olimpíadas. O custo do estádio já ultrapassa em 300% a quantia inicialmente estipulada. os números já chegaram à casa de 1,6 BILHÃO!!!! Mas tanto o Ministério Público, quanto o Tribunal de Contas, assim como a própria população brasileira não vêem nada de anormal. Que triste esse grau de cumplicidade por parte do povo!

Por essas e outras eles se veem alijados de um dos seus maiores patrimônios: o Maracanã. Há mais de 2 anos cariocas não sabem o que é assistir um jogo de futebol nesse estádio. E que depois de todas as reformas, totalmente custeadas com o dinheiro do contribuinte, será transferido para as mãos privadas e gananciosas de um mega empresário e especulador (desculpem a redundância): Eike Batista.

Mas o povo não é bobo. Por mais que não se rebele frente aos descalabros que ocorrem em relação às obras da Copa e das Olimpíadas, ele expressa de uma outra maneira a sua desilusão com o futebol brasileiro. Os seus campeonatos locais são uma comprovação inequívoca do desprezo cada vez maior da população frente aos rumos que o futebol tem tomado no país. Jogos quase sem público. A audiência da própria TV despenca a cada final de semana. Nem os clássicos despertam interesse. O nível dos times contribui para tal quadro: jogadores fracos, despreparados técnica e fisicamente, incapazes de trocar 5 ou 6 passes – e de curta distância.

Times mal armados. O número de chutões é significativo. Gramados cheios de falhas, buracos, montinhos. Uma calamidade!

Vamos ao último caso, pois o meu estômago não é de ferro. Jogador do Vasco é torturado no Complexo da Maré e se safa por pouco. Motivo: teria se envolvido com uma das “mulheres” do Menor P, chefe do tráfico da região e por isso levou uma bela sova. Sorte um pouco pior teve a amada que levou nada menos do que cinco tiros nas pernocas. O Vasco prometeu total apoio ao chutador de bola. Outros dois jogadores estavam envolvidos. Um de um time pequeno do Rio, o Fluminense e outro, de um time paulista da segunda divisão, de nome porco. Meu deus.....

Ah, tenha paciência. E alguém ainda acha que esse futebol pode ser considerado alguma coisa???




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