Zuenir é o clássico caso de sujeito cujas idéias já passaram do prazo de validade mas que ainda se agarra a idéia de que os cabelos brancos podem lhe dar total impunidade, mesmo enunciando tantas barbaridades em forma de texto.
Zuenir é um daqueles que acham que o
país lhe deve até hoje por ter chamado o regime militar - que matou, torturou e
seqüestrou as liberdades democráticas do Brasil por 21 anos – de bobo e feio.
Se não fossem os excessos cometidos por esse brutal regime, é bem provável que
a ditadura nem chamasse a atenção do autêntico revolucionário de gabinete:
tirante os amigos e familiares do velho crítico que foram perseguidos, a
Ditadura mais parecia uma pujante democracia.
Tanto é assim, que findo o asqueroso
aparato ditatorial, a continuação de todo um processo de recorrente violência
estatal, a repressão política e social a grupos marginalizados na sociedade, a
repressão descabida, os seguidos casos de brutalidade policial, os milhares de
exemplos e denúncias de tortura nos porões da democracia formal-liberal e
tantas outras situações de extrema violação de direitos básicos de cidadãos das
camadas pobres do país, nada disso parece ter feito o combatente da Praia do
Leblon imaginar que tudo acima apontado pode muito bem ser encarado como um
projeto de controle e esmagamento das classes pobres e pretas que é em tudo
semelhante ao que era realizado pela ditadura militar, só que antes direcionado
contra grupos políticos de esquerda.
Que nada. Para o homem das causas que
nunca foram vencidas (até porque a elas ele nunca compareceu...), a questão da
segregação sócio-racial na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, seria fruto
tão somente da existência de duas “cidades”, uma sem-lei (favelas) e outra
civilizada (a sua doce Zona Sul). Tudo se resumiria então na questão da omissão
do Estado em combater o poder paralelo, que teria seqüestrado os territórios
favelados da cidade, impondo um regime de terror sem precedentes; tudo
transcorreria desse jeito: vilões que teriam saído não se sabe de qual caverna
ou galeria subterrânea (ou vindos de um outro planeta, quem sabe?) teriam
invadido o espaço das favelas (também extra-terrestre), vitimando pessoas
inermes, desvalidas e apáticas – contando com a pusilanimidade de um Estado
dorminhoco, babão, mentecapto e quem não dá o verdadeiro valor a essa gente que
trabalha, rala e sonha por um dia melhor...
Miolo mole
Mas o que é isso seu Zuenir? As
intermináveis tardes no calçadão do Leblon fizeram o que com o que restou da
sua capacidade de raciocínio crítico? Se o nosso amigo da elite carioca, antes
de se meter a fazer uma análise profunda da segregação social, partisse daquela
mágica pergunta, a clássica indagação dos advogados – “Mas a quem interessa
tudo isso?”, é crível que muita sandice e banalidade deixasse de ser escrita.
Mas não. E o pior: todo o lamentável espetáculo de desinformação e vulgaridades
travestidas de conceitos minimamente sérios desfilados em seu “Cidade partida”
ainda conseguiu figurar acompanhado do rótulo de
análise-séria-e-profunda-de-um-típico-representante-do-pensamento-de-esquerda.
Que absurdo! (O Barão de Itararé fazendo piada seria mais frutífero que uma
observação do Zuenir concentrado, em posição meditabunda).
E dessa imagem o intelectual orgânico
do Posto 11 soube se servir. Os espaços em jornais lhe afloram até hoje. Seus
livros são lidos, muito menos pela qualidade (rasa e redundante) e muito mais
pela áurea de “um homem que lutou bravamente contra o tacão da censura”.
Mas há momentos que Zuenir não se
deixa mentir. Longe disso. O seu “Na Idade das Pedras”, estampado no jornal O Globo, é mais um constrangedor retrato
da degradação intelectual do pseudo-esquerdismo que tanto lucrou se encostando
em mitologias sobre a resistência à Ditadura.
Não fala bobagem!
Vamos a alguns trechos. Advirto logo:
vocês não estão diante de uma paródia do Justos Veríssimo, da Odete Roitman ou
do Caco Antibes – não, de jeito nenhum. Trata-se de elementos do repulsivo
raciocínio do senhor Ventura.
Assim ele começa o seu rosário que
faz lembrar muita vovó da Marcha da Família com Deus:
Algumas semanas "fora, e a volta a um país de cara amarrada,
espumando de raiva, quebrando e depredando como se estivesse na Idade das
Pedras, além das de crack. Depredar 708 ônibus em dois dias é uma proeza
inédita. Em mais de 60 anos no Rio, nunca vi igual.
Nunca ver nada não é de hoje por
parte do Zuenir. Ele não vê nada que transcenda as fronteiras da República do
Leblon. E o sujeito consegue comparar trabalhadores e manifestantes com
criminosos e viciados. Nada mais deplorável. Nem os meganhas do DOI-CODI
chegavam a tanto. Nem eles desciam a um nível de indigência intelectual tão
abjeto. E baseado em quê ele nos fala de 708 ônibus depredados? Só mesmo um
ancião que nunca pegou um ônibus ou uma van, que ao invés de gastar mais de 6
horas por dia para se deslocar da casa para o trabalho, despende todo o seu
tempo para queimar passar no calçadão de Ipanema, pode sentir tanta peninha do
pobre cartel que domina o lucrativo sistema de transportes do Rio. No mais
senhor Zuenir, adote um empresário de empresa de ônibus...
Zuenir, o Godzilla do Leblon
Logo a seguir, Zuenir dá mostra do
avançado estágio terminal do seu respeito pela integridade intelectual:
Parece que estamos atravessando um cumulus
nimbus, aquelas nuvens que são o terror dos passageiros
aéreos porque provocam turbulências capazes de derrubar o avião. Não fosse o
medo de ser acusado de racismo, eu diria que a coisa tá preta. Se até Jair
Rodrigues parou de sorrir.
O desvio virou norma e, contrariando o princípio da democracia, em que
prevalece a vontade da maioria, a minoria é quem manda agora, ou tenta mandar.
Por qualquer reivindicação, um pequeno número de manifestantes pode impedir o
trânsito de milhões de pessoas a caminho do trabalho ou de casa.
Exceto a parte em que ele mais uma
vez agride o direito de greve dos trabalhadores, um direito constitucional,
pertencente a qualquer democracia minimamente decente e que nunca seria
contestada no continente tão endeusado por ele – a Europa -, Zuenir mostra o
quanto passar o tempo todo na praia pode sim torrar os miolos de um sujeito:
pois, como explicar frases tão desconexas e sem sentido como “até Jair
Rodrigues parou de sorrir”(?!?!?!) ou “passageiros aéreos” que utilizam avião?
Mas o que é isso? Alguém entendeu alguma coisa?????
Mas atacar o direito de qualquer
cidadão/cidadã e trabalhador/trabalhadora de realizar greve nesse país (direito
que só era contestado pelas ditaduras mais selvagens e odiosas da história)
parece ser o refrão preferido do “ex-querdista”. Para isso ele não hesita em
lançar mão de um conjunto canhestro de inverdades e distorções dos fatos.
O exemplo mais gritante foi a greve dos rodoviários cariocas, promovida
por um grupo minoritário de “dissidentes”, que, derrotados na assembleia da
classe, impuseram à força e contra a vontade do próprio sindicato e da Justiça
a paralisação da cidade por 48 horas.
Um amigo me aconselhou: “Fica calmo, porque vai piorar até a Copa.” Minha
esperança é que seja um surto, e que a pouca adesão aos protestos de anteontem
mude a orientação.
De onde o senhor tirou isso. Como
pode ter se informado tão bem assim lá de Portugal (pobre terrinha!)? Ou
estamos diante de mais uma torpe tentativa de apresentar uma campanha
ideológica de agressão aos movimentos sociais sob a capa de notícia?
É intrigante pensar o que dizia
Zuenir quando as tentativas de se organizar greves durante o regime militar
eram duramente reprimidas, com seus “cabeças” e “dissidentes” levados aos
porões da tortura, às casas da morte e seus corpos levados aos rios, ribanceiras
e matagais desse país à fora. Seriam esses tempos (o do Regime) de mais
esperança, mais alívio e menos medo?
Para finalizar seu destemperado
arrazoado contra o direito do trabalhador e da sociedade em geral em se
manifestar e lutar pelos seus direitos – inclusive o de viver com o mínimo de
dignidade – Zuenir tenta descer a um nível mais baixo ainda na sua análise
sociológica, comparando o cenário dos movimentos sociais a um “sanatório” e
acusando a psicanálise como a grande inspiradora do seu palavrório alucinado – pobre Freud!
Desde que Freud passou a substituir Marx nas análises da realidade,
sabe-se que o meio ambiente não explica tudo. Assim, para entender o sanatório
geral que é hoje o Brasil, recomenda-se chamar, além dos sociólogos, os psicanalistas.
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