domingo, 16 de junho de 2013

O ano que ainda não terminou.





Dois cenários deprimentes. Violentos – cada qual na sua torpe maneira. Triste. Indigno. Impressionante que um país como o Brasil ainda possa testemunhar cenas como essas. E todas – é impossível não imaginar – nos remetem aos terríveis e podres anos de maior ferocidade da ditadura implantada em 1964: falo do período que vai do AI-5 do general Costa e Silva (primo distante do Pinochet), decretado em 68, e a Copa de 70, já no (des)governo Médici.

No primeiro cenário de horror temos os protestos em várias cidades do Brasil contra o assalto das empresas de ônibus – com a conivência dos governos, inclusive do PT. A ferocidade com que as manifestações do povo foram reprimidas – principalmente em São Paulo - causam apreensão. Mas, vamos lá, esperar respeito às normas que deveriam nortear o estado democrático de direito por parte da polícia, ainda mais uma polícia comandada pela Junta Tucana (encastelada há quase 20 anos no Palácio dos Bandeirantes) seria o mesmo que esperar a resolução de equações de física quântica por parte  da Valeska Popozuda....

E ainda por cima a polícia do Geraldinho encarcerou vários jornalistas. Um ataque insano à liberdade de informação e de imprensa. Algo impensável de ocorrer em qualquer país minimante civilizado. Agora, imaginem se tivesse ocorrido algo parecido na Venezuela ou na Argentina? Ou no Irã?




As balas, cassetetes, bombas, patadas de cavalo e sprays não atingiram apenas as vítimas da covardia institucionalizada. Atingiram fundamentalmente a sempre precária democracia brasileira. O Estado mais uma vez patrocina ações de terrorismo, de afronta, de ataque irracional contra os pilares da República nacional. As polícias mais uma vez se mostram despreparadas para lidar com manifestações públicas, com formas simples de protesto, de defesa de direitos políticos e sociais. Ela – a puliça - não aceita acatar preceitos comezinhos de qualquer republiqueta que se preste: respeito ao cidadão, defesa de sua integridade, respeito às normas democráticas etc.


Não, para a nossa polícia não! Ela se nega até hoje a enterrar de vez suas origens. Lembrando que tais corpos de milícia foram criados nos albores do século XIX, em plena vigência do regime escravista. A do Rio, por exemplo, tinha como função primordial a defesa da economia senhorial, ficando a seu cargo inclusive a captura de escravos. Isso mesmo, a força policial agia como capitão-do-mato meus amigos. Sórdido, não? Claro, que qualquer semelhança com os dias atuais é mera coincidência...




Portanto, não só a tropa fluminense como os aparelhos dos outros estados nunca tiveram como função precípua a defesa do cidadão, mas exigências do latifúndio, da economia escravista, com base no porrete, mosquetão e terror. E outra constante: tudo defendido pelos liberais da época. Portanto, ao vermos uma figura como a do economista liberal Rodrigo Constantino defender a repressão policial como uma medida salutar da democracia liberal, não se amendrontem. Não minha gente: isso não é falta de respeito à inteligência humana. Isso é a essência do pensamento(sic) liberal....

Mas nada é mais deplorável do que a cobertura jornalística(sic) sobre os acontecimentos por parte da grande imprensa. Como todos sabem as manifestações de protestos foram saudados pela mídia como “baderna”, “ato de vandalismo”. Chegou-se mesmo a estampar como “ato terrorista”. Agora, uma bala(êpa!) para quem adivinhar qual veículo de imprensa foi capaz de estampar tal barbaridade: ah, claro, sempre ela, o pasquim que atualmente é o que mais deplora não apenas a democracia, mas o próprio fato do Brasil ser habitado por seres humanos que não sejam ricos e brancos – sim, a nossa Revista VESGA.  E, assim, tudo que se associa com luta ou resistência pela democracia é taxado de terrorismo, fascismo, cubanização, comunização da pátria. Que revista brega.... não vale nem 20 centavos!




 E agora com a internet e com a chamada TV interativa é possível sondar as reações de boa parcela da população que se deixa guiar por esses aparelhos privados de tortura intelectual e moral de nome mídia. Muita gente que afirma ter “a mente e os olhos abertos(!!!!)” por essa imprensa ainda se manifesta e declara total apoio às suas linhas editoriais. As postagens dos aficcionados por essa escória impressionam. Todos, quase sem exceção apóiam a volta da ditadura, o uso indiscriminado da violência. E, claro, muitos ainda dizem que também defendem Deus, Pátria e Família.....

Um dos articulistas endeuzados pela fina-flor do neonazismo tupiniquim chega a defender a aplicação da Lei de Segurança Nacional contra os “terroristas”, isso porque, segundo o sujeito, ainda não há no país leis anti-terroristas para pôr cobro as canhestras ações desses sequazes a serviço – quem sabe? - de alguma camarilha anarco-radical-marxista-esquerdista-neopetencostal (agora vem a dúvida sobre a sede da matriz: Pequim, alguma gruta do Afeganistão, Caracas ou Pyongyang?). Tudo é possível na mente delirante e psicótica desse paladino da democracia. Democracia acéfala, sem povo e que só serve se servir aos desígnios do Capital.

No segundo, o cenário beira o caricato. Um show de ufanismo cercando a abertura da Copa das Confederações e a estréia da Seleção Amarelona do Felipão Scolari. Técnico que conclama a todos, inclusive a imprensa, a parar de ver o que está errado, a tentar ser mais patriótica, a abraçar a seleção, pois ela representa o nosso país. E pede para que só nos preocupemos em passar uma imagem boa de nossa terra.



Mas como assim Felipão? Como esquecer que essa Copa é a mais cara de todos os tempos? De que só essa Copa é mais cara de que todas as três anteriores? Como esquecer as 12 arenas superfaturadas? Como esquecer que depois de Lula prometer que não seria gasto um centavo público, faltando um ano para a Copa, já  se foram dos cofres públicos mais de 80 bilhões de reais? Como esquecer que isso poderia ter sido voltado para um sistema de saúde em frangalhos, para o ensino público em petição de miséria, para as obras do PAC empacadas, para salvar conjuntos habitacionais que estão afundando, para os aeroportos sucateados, para as esburacadas estradas do sertão afora? Como esquecer a falta de transparência? Como esquecer as denúncias que pairam sobre o atual presidente da CBF? Como esquecer que hoje o Brasil ocupa a 22ª posição do ranking, atrás da Grécia, Croácia e só um pouco acima do Mali?

Não Felipão. Assim não dá, assim não pode. Até o público de dentro do estádio não pensa assim. A estritosa vaia contra a Presidenta é emblemática. “É, mas foram os ricos” – se apressam em defender os defensores do ParTido. Ricos que estavam ali – e só eles - porque o governo assim quis. Deixando que a Fifa expulse o povo dos estádios. O povo pobre e negro principalmente. Mas estes estavam foram do estádio no momento da “festança”. Tomando bomba, alguns sendo atropelados, levando cacetete na carcaça. Ações lamentáveis, só a engrossar a lista de crimes da Copa. 


Mas expulso dos estádios de futebol, o povo agora procura o espaço da Rua. E incomoda não apenas os poderosos como a grande imprensa. 

O brasileiro parece ter cansado de ser Mané. Imagina na Copa.   






Leonardo Soares é historiador e defende o uso do Vinagre para fins democráticos.

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